No dia 30 de junho, o Arquivo Público do Paraná recebeu a ilustre visita da historiadora suíça Rea Camilla Vogt, pesquisadora vinculada à Universidade de Berna. Seu trabalho acadêmico foca a trajetória histórica, cultural e econômica da erva-mate — desde sua origem no Cone Sul da América até sua expansão para outras regiões do mundo, com ênfase especial na Síria e no Líbano. A pesquisadora busca entender como Brasil e Argentina influenciaram a introdução e o enraizamento do hábito de consumir a erva-mate nesses países do Oriente Médio, onde a bebida passou a ter importância sociocultural.
O Paraná, maior produtor de erva-mate do Brasil, ocupa lugar central nesse estudo. A planta, nativa da Mata Atlântica e tradicionalmente consumida pelos povos indígenas, passou por um processo de valorização econômica a partir do século XIX, tornando-se o principal motor da economia paranaense até o início do século XX — um período conhecido como o Ciclo da Erva-Mate.
Nesse ciclo, a atividade ervateira assumiu papel fundamental na formação da infraestrutura, da economia e até da organização social do Paraná. Com forte presença nas regiões de Guarapuava, Ponta Grossa, Irati e União da Vitória, a produção da erva-mate gerou empregos, impulsionou o transporte ferroviário e fortaleceu redes comerciais com outros estados e países.
Hoje, embora não tenha mais o mesmo protagonismo econômico do passado, o cultivo da erva-mate continua sendo uma importante atividade agrícola no estado, com relevância tanto para o mercado interno quanto para o externo. A planta também se mantém como um dos maiores símbolos da identidade cultural do Paraná — figurando no Brasão de Armas e na bandeira do Estado, onde seus ramos cruzados representam tradição, abundância e ligação com a terra.
Durante sua visita ao DEAP, Rea Camilla Vogt foi recebida pela equipe do Setor de Documentação Permanente e pela diretora da instituição. Os servidores destacaram a relevância de estudos internacionais, como o da pesquisadora suíça, que contribuem para ampliar a projeção da história, da economia e da cultura paranaense em contextos globais.
O acervo do Arquivo Público oferece uma base documental valiosa para pesquisas sobre o tema. Documentos relacionados à produção, regulação, comercialização e transporte da erva-mate podem ser encontrados em diversos fundos de Secretarias de Estado, especialmente aquelas ligadas à agricultura, economia e fazenda. A biblioteca especializada e o fundo documental Romário Martins também se destacam. Romário Martins foi um dos mais importantes estudiosos da história e da cultura paranaense, com vasto material sobre a atividade ervateira e sua importância para a construção da identidade do Estado.
A visita reforça a importância da preservação da memória histórica e da valorização das conexões globais da cultura regional. A erva-mate, que já moveu economias e construiu cidades, hoje conecta povos, culturas e pesquisas, reafirmando seu papel como patrimônio material e imaterial de alcance internacional.