Portal do Servidor conta histórias de servidores 28/10/2016 - 09:10

Um remédio, o esporte


O procurador do Estado do Paraná aposentado Hélcio Buck Silva, aos 88 anos de idade, não gosta de ficar parado. Principalmente quando se trata de atividades esportivas. Elas fazem parte de sua vida desde menino, quando saltitava no terreno vago ao lado da casa dos pais, nas proximidades do Cemitério Municipal São Francisco de Paula, em Curitiba.

Foi no salto com vara que Buck ganhou o mundo. Em 1952, participou da Olimpíada de Helsinque, na Finlândia, após atingir o índice olímpico de 4 metros no campeonato sul-americano, em Buenos Aires. No entanto, uma indisposição que começou no voo de 42 horas contribuiu para que subisse apenas 3,60 metros – “na vida do atleta tem disso, às vezes não está no dia, não dá certo”. O ouro ficou com o “Padre Voador”, o norte-americano Bob Richards, com 4,55 metros.

“Ele era imbatível, mas eu tinha condições de fazer pelo menos 4,20”, afirma. Teria ficado entre os cinco melhores do mundo. Não nega a frustração. No entanto, prefere olhar com otimismo. “A Olimpíada é a consagração final, algo muito raro na vida do atleta. Foi importante ter estado lá, participado de tudo.”

A dedicação ao esporte intensificou-se. “Eu treinava obsessivamente”, reforça. A recompensa chegou no ano seguinte, quando ostentou a medalha de bronze no pódio dos Jogos Universitários Mundiais, em Dortmund, na Alemanha. Está guardada com carinho.

VASCO – Buck teve uma carreira esportiva precoce. Aos 17 anos, após um curso de dois, já era professor-assistente de Educação Física no Ginásio Paranaense e, mais tarde, concursado. No mesmo período, tentou carreira como goleiro, defendendo os times juvenis do Atlético e do Coritiba. Recortes de jornais da época derramam elogios. “É o milagre juvenil de 1944”, registrava o goleiro Alfredo Gottardi, conhecido como Caju, que defendera a seleção brasileira no Sul-Americano, em Montevidéu, em 1942.

As jogadas ríspidas do futebol – “depois de um jogo parecia que tinha saído de uma guerra” – e a facilidade de acesso à pista de atletismo em volta do campo do Coritiba alteraram sua opção. “Achei que o atletismo era mais nobre, as provas eram individuais, não dependia dos outros”, diz. No atletismo, foi atraído pela beleza do salto com vara. “Era difícil, mas aceitei o desafio.”

O grande impulso na carreira, que culminou com a Olimpíada, com a medalha mundial e com a quebra de recordes da época no Paraná, Rio de Janeiro e, um pouco mais tarde, Rio Grande do Sul, foi conseguido nos dois anos em que esteve na equipe do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Chegou ao clube indicado pelo sobrinho do presidente, com quem cursava Direito na Universidade Federal do Paraná.

No Rio, morou nos mesmos alojamentos da maioria dos jogadores da seleção brasileira de 1950, que eram do Vasco, entre eles o goleiro Barbosa e o craque Ademir Menezes, além do técnico Flávio Costa. Como pagamento, apenas a ajuda de custo para viajar a Curitiba e realizar provas na universidade. “Meus colegas eram também admiradores e me davam apostilas e aulas, e, às vezes, algumas colas”.

PROCURADORIA – Formado em Direito em 1954, a primeira atividade administrativa no governo do Paraná foi como advogado na Fundação de Colonização e Migração, durante o segundo governo de Moysés Lupion. Transferido para o Departamento de Ciências Técnicas dos Municípios, tornou-se especialista em administração municipal.

Ao entrar para a Procuradoria-Geral do Estado, foi imediatamente indicado para chefiar a Procuradoria Administrativa. Em 1979, assumiu como primeiro corregedor da PGE. “Sempre fui caracterizado como uma pessoa dura, até minha cara mostra isso”, brinca.

Começou com a exigência para que todos os procuradores se apresentassem ao trabalho. “Havia pessoas que nem sabíamos que existia, mas estavam na folha de pagamento”, diz. Ele implantou relatórios mensais, que serviam, inclusive, como parâmetro para as promoções. “Eu queria fiscalizar, e fiscalizava o trabalho de cada um”, afirma.

Na pauta de sua passagem pela corregedoria havia uma grande missão: moralizar os concursos para a carreira de procurador. “Conseguimos, com bancas bem constituídas”, acentua. Buck era e continua sendo ferrenho crítico ao exercício da advocacia particular por procuradores de Estado. “Tem conflito”, acentua. “Fui muito criticado por isso, mas sempre fui contra.”

Reconhecido ainda hoje pelos alunos e respeitado por amigos antigos e novos, ele frisa: “Nunca me ofereci para nenhum emprego público, fui sempre convidado.” Dessa forma, foi assessor do desembargador Antonio Lopes de Noronha, chefe de gabinete do prefeito de Curitiba Ivo Arzua e diretor do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra) no governo do ex-presidente Costa e Silva. Foi, ainda, o primeiro árbitro do Juizado Especial de Pequenas Causas, em Curitiba.

GOLFE – Buck dirigiu também o Conselho Regional de Desportos e foi vice-presidente da Federação Paranaense de Futebol e secretário da Federação de Golfe. Aliás, é esse esporte que o tem tirado com mais frequência de casa, inclusive para campeonatos pelo Brasil e pela América do Sul.

Desde os 53 anos, duas vezes por semana, aprimora as tacadas no campo do Clube Curitibano. Começou num momento em que se encontrava um pouco deprimido. “Precisava encontrar alguma atividade que me remodelasse”, diz. Como em outros momentos, um amigo apontou-lhe o caminho, sugerindo a prática do golfe.

A paixão imediata por esse esporte ajudou-o na transição para a aposentadoria. “Possibilita caminhar, respirar oxigênio mais puro, fazer uma atividade mental, além de renovar as amizades”, afirma. Tornou-se um estudioso e ostenta troféus em vários cômodos da agradável casa em que vive com a mulher Ivete, com quem se casou logo após o retorno dos Jogos Olímpicos de Helsinque, e onde acolhe frequentemente os quatro filhos e seis netos.

Entre os orgulhos, dois hole in one (buraco feito, de saída, com apenas uma tacada). “Tornei-me um jogador sênior razoável”, acentua. Lamento apenas por não ter sido apresentado mais cedo ao golfe. “Se pegasse garoto, como peguei o atletismo, poderia ter sido excelente jogador.”

Entusiasta da vida – “temos de aproveitar, pois ela não tem volta, só ida” – e crítico particularmente em relação ao cigarro, Buck reforça nunca ter tido problemas mais sérios de saúde. E não titubeia quando precisa dar um conselho a jovens ou idosos. “O esporte é o grande remédio que podemos recomendar para todo mundo”, reforça. “A velhice você prepara na juventude. Portanto, quem tem uma juventude sadia, provavelmente terá uma velhice sadia.”

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